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Erros frequentes em saúde mental 

 

          A psiquiatria ainda é uma área da medicina envolta em muitos estigmas, falsas idéias e preconceito. A despeito de toda a evolução que já houve nesta área, ainda há muito o que se fazer para que portadores de doenças mentais não tenham receio de pedir ajuda, não se sintam discriminados e possam receber a atenção e os cuidados necessários.

Esclarecer a sociedade sobre esses mitos implica em reduzir os mal-entendidos sobre essas doenças, que são tão prevalentes em nossa sociedade.

                  Todos podemos e devemos contribuir!

 

                  Ficam aqui alguns erros frequentes relacionados a saúde mental:

 

1. Os problemas de saúde mental são incomuns.

Na verdade, quase uma em cada cinco pessoas terão um problema de saúde mental diagnosticável ao longo da sua vida, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

 

2. As  pessoas que padecem de problemas de saúde mental são as causadoras dos mesmos.

Embora as pessoas precisem assumir a responsabilidade pelos seus próprios pensamentos, sentimentos e comportamentos associados às perturbações, elas não são as culpadas por eles estarem ocorrendo. Há uma grande diferença entre assumir a responsabilidade e aceitar a culpa, mas, infelizmente, muitas pessoas confundem essas duas coisas.

 

3. Os problemas de saúde mental são de natureza puramente biológica ou genética.

Apesar de investigações recentes demonstrarem um papel importante da biologia e da genética numa grande parte dos problemas de saúde mental, estes são o resultado final da mistura de múltiplos fatores: genéticos, biológicos, ambientais, psicológicos e sociais. A doença mental é complexa e exige uma ampla visão para sua compreensão e devida abordagem terapêutica.

 

4. Os transtornos mentais são para toda a vida e difíceis de tratar.

Esta questão aparece muito frequentemente quando se está medicando um paciente pela primeira vez, com uma doença recém diagnosticada, como depressão ou ansiedade. Na verdade, muitos medicamentos (com algumas poucas exceções, como as utilizadas para transtorno afetivo bipolar e esquizofrenia, por exemplo) são prescritos por um prazo mais curto, objetivando-se o alívio dos sintomas e a prevenção de recaídas. Em muitos casos é possível a resolução completa do problema.

 

5. Uma psicoterapia leva uma eternidade e foca sempre em problemas de infância.

É um mito que advém da época em que a única opção eram as terapias psicanalíticas clássicas. Embora muitas vezes esta técnica seja útil e eficaz, as várias técnicas de psicoterapias modernas podem até ser de curta duração e orientadas para o problema. São exemplos as psicoterapias cognitivo-comportamentais e a terapia interpessoal.

 

6. Eu posso lidar com meus próprios problemas de saúde mental, e se eu não posso, eu sou fraco.

Achar-se fraco por ter um transtorno mental é um preconceito. Embora as vezes o esforço para resolver o problema através de estratégias, tais como exercícios físicos, cuidados com a alimentação, sair com os amigos, possam ajudar a minimizar o problema, muitas vezes é mesmo necessário recorrer à ajuda de um profissional de saúde mental... E isto não deve ser vergonha nenhuma! Isto não significa que você é fraco - fraco de espírito, de força de vontade, ou o que quer que seja. Isto apenas significa que você percebe e aceita as suas limitações humanas e naturais, e procura ajuda e cuidados adequados quando as suas capacidades de lidar com o problema não são suficientes. Por exemplo, se você quebrasse a perna, a sua escolha seria esforçar-se para aguentar, com o risco de agravar a fratura e arriscar uma incapacidade permanente? Ou iria a um ortopedista para tratar deste problema e voltar a andar como antes? Isto faria de você um fraco?!

 

7. Se eu admitir que tenho problemas, todos vão pensar que eu sou maluco e terei de ir para um hospital por um tempo muito longo.

Ter uma doença mental não significa que você está "maluco" ou "louco". Significa apenas que você tem uma doença médica, tal como outra qualquer, que precisa de tratamento. Será que alguém da família ou um amigo vai pensar mal de você por ter leucemia? Gripe? Então porque deveria pensar mal de você por ter depressão ou ansiedade?

A maioria das pessoas que têm um transtorno mental não precisa de internação. Esta só é utilizada em casos extremos, quando o problema o coloca em risco de morte iminente (ou risco de danos a outras pessoas) ou para realização de um tratamento especial que tenha mesmo a necessidade de ser feito em ambiente hospitalar. Mesmo que seja internado, isso não significa que permanecerá internado por semanas ou meses. Tal como em qualquer doença, você será avaliado, tratado e terá alta assim que estiver melhor.

 

8. Ter idéias suicidas significa que enlouqueci.

É comum existirem idéias suicidas na depressão ou em outras perturbações do humor. É um sintoma que, apesar de grave e angustiante, é comum, não o fazendo mais ou menos "louco". Estas idéias suicidas começam a desaparecer assim que você começar a receber os cuidados adequados para a sua condição. É por isso que é tão trágico quando as pessoas realmente se suicidam, sem pedir ajuda... Acredito que a maioria o faz por estar doente e que, se tratado a tempo, poderia estar vivo e sentindo-se bem.

 

9. Os medicamentos psiquiátricos causam dependência e depois de começar é muito difícil parar.

Trata-se de um mito muito frequente que leva muitas pessoas a não fazerem os tratamentos adequadamente. A verdade é que a maioria dos medicamentos utilizados para tratar as perturbações mentais não causam quaisquer dependências. Os antidepressivos, os antipsicóticos e os estabilizadores do humor não apresentam risco de dependência. Já muitos medicamentos ansiolíticos, como Rivotril, Diazepan, Lexotan, etc, que são utilizados muitas vezes sem o acompanhamento médico adequado, podem causar dependência. Isso não quer dizer que eles não possam ser utilizados e, muitas vezes, são realmente úteis. Porém, sempre deve haver um criterioso acompanhamento médico.

 

10. As ditas "doenças mentais" são apenas rótulos para comportamentos normais.

Quem nunca acompanhou alguém com uma doença mental poderá achar que muitos dos sintomas são semelhantes a emoções e comportamentos normais. Como distinguir entre a tristeza normal e a depressão? Entre timidez ou ansiedade social? Quando a organização se torna uma compulsão? Todavia, assim como há diferenças entre um tumor maligno e benigno, os sintomas das doenças mentais são muito diferentes das emoções e comportamentos normais. Quando uma determinada emoção ou comportamento gera uma incapacitação, ou seja, a ponto da pessoa não conseguir funcionar profissionalmente, socialmente ou em sua vida familiar, estamos, certamente, diante de uma doença mental. Nestes casos, é importante que os diagnósticos sejam realizados.

Feito o diagnóstico, já temos condições de informar ao paciente e aos familiares o que está ocorrendo e como deverão lidar com isso. Também partimos do diagnóstico acurado para poder instituir as intervenções e tratamentos medicamentosos que, baseados em evidências científicas, sejam os mais eficazes para cada caso.

 

 

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